Obras se arrastam em Sumaré e Hortolândia
terça-feira, 24 de abril de 2012“Em breve, a cidade contará com uma unidade especializada no atendimento de urgência e emergência, melhorando assim o acesso à saúde”. Com esta frase, o prefeito de Sumaré, José Antonio Bacchim (PT), anunciou a construção de um novo pronto-socorro na cidade, no Jardim Macarenko, que ajudaria a resolver os problemas de muitos sumareenses.
Tal frase, no entanto, foi dita há quase seis anos, mais precisamente em 10 de novembro de 2006. Até hoje, o Pronto-Socorro não melhorou o acesso à saúde e o motivo é simples. Não está pronto.
Assim como Sumaré, outra cidade da RPT (Região do Polo Têxtil), Hortolândia, coleciona atrasos em obras voltadas à saúde pública. Os valores das principais construções que se arrastam nos dois municípios somam a quantia de R$ 11,1 milhões.
As obras do novo Pronto-Socorro de Sumaré já se tornaram alvo de deboche por parte dos moradores. Para muitos, a história virou novela. Com entrega programada para o final deste ano, quando se encerra o mandato de Bacchim, a finalização do PS era prevista para 2008 e orçada em R$ 3,2 milhões.
Em outubro do ano passado, um temporal com ventos de mais de 100 quilômetros por hora causou estragos na cidade e danificou grande parte da estrutura do PS Municipal. O alto custo da reforma fechou o antigo PS e impulsionou a retomada das obras no Macarenko.
Logo após as chuvas, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) esteve na cidade Sumaré para anunciar recursos para a compra de equipamentos e para a finalização do pronto-socorro.
Pouco depois do anúncio, há três meses, operários voltaram a trabalhar no local. A decisão pela retomada foi elogiada pelo então secretário da época, Roberto Vensel, e gerou alívio na população, mas o atraso não deixou de ser criticado.
“Já faz tanto tempo que prometeram, mas só vou acreditar quando o lugar estiver funcionando”, afirmou um morador do bairro, durante a visita de Alckmin.
Hortolândia
Na cidade de Hortolândia, as principais obras atrasadas somam R$ 7,9 milhões. A mais cara delas, o Centro de Saúde no Jardim Nova Hortolândia, está em fase de acabamento, mas devia ter sido entregue há quase dois anos, em setembro de 2010.
Uma notícia datada de 22 de fevereiro de 2011, elaborada pelo Departamento de Comunicação da Prefeitura, anunciava que o Centro estava 80% finalizado. Fora as pichações e o mato alto, um ano depois, a situação não parecia ter mudado.
Segundo o presidente do Conselho Municipal de Saúde da cidade, José Carlos de Oliveira, alguns erros na execução da obra forçaram a adaptação a um novo projeto, que teve de ser encaminhado ao governo federal para análise e ratificação.
“Está tudo encaminhado. Faltam pouquíssimas coisas”, garantiu. A Prefeitura não deu prazo para conclusão.
Ainda em Hortolândia, o Centro de Especialidades Médicas, próximo ao Residencial Green Park, devia ter sido finalizado em novembro de 2010. Orçado em pouco mais de R$ 3 milhões, atualmente, o local estava abandonado até pouco tempo.
Do lado de dentro das grades, o alicerce e as paredes já estão prontas. O acesso ao lugar, no entanto, só é possível através de uma estrada de terra, em situação precária.
Segundo a Administração, o atraso também se deve a mudanças técnicas no projeto inicial da unidade, que foram solicitadas ao Ministério da Saúde.
A necessidade foi identificada no decorrer da construção e, agora, a cidade aguarda o órgão federal aprovar a alteração para dar continuidade à obra.
Anexo ao Centro de Especialidades, o Centro de Referência da Mulher, orçado em R$ 724 mil, teve as obras “aceleradas” pela Prefeitura de Hortolândia logo após o Liberal noticiar a ausência de trabalho no local.
Previsto para ser entregue em novembro do ano passado, a unidade recebe serviços de acabamento e, segundo o secretário de Obras, Marcelo Zanibon, deve ser entregue ainda neste semestre.
Sumaré enfrenta problemas estruturais
Além do atraso com o Pronto-Socorro do Jardim Macarenko, Sumaré enfrenta problemas estruturais e de recursos humanos.
O secretário de Saúde, José Eduardo Bourroul, já admitiu em entrevista a dificuldade que a cidade enfrenta para contratar médicos para atuar nos PSFs (Programas de Saúde da Família).
O próprio prefeito, José Antonio Bacchim (PT), também se diz ciente de que “a saúde não está bem”.
Na Câmara dos Vereadores de Sumaré, parlamentares da oposição frequentemente questionam a falta de aparelhos para a realização de exames, falta de médicos especialistas e falta de medicamentos. Esta última foi confirmada pela Prefeitura ao vereador Décio Marmirolli (PSDB).
No ofício enviado à Câmara dos Vereadores e ao parlamentar, a pasta afirmou que alguns itens do material de enfermagem estão disponíveis em quantidades pequenas. Sendo assim, é dada prioridade para atendimento dos serviços de urgência e emergência.
O município já registrou também falta de luvas para consultas odontológicas, entrega inadequada de medicamentos feita sem a supervisão de farmacêuticos ou auxiliares, aparelho de encefalograma com avarias, entre outros.
Em março, a suspensão de exames laboratoriais, como a coleta de sangue, motivou a convocação do secretário de Saúde para dar explicações aos vereadores na Câmara Municipal.
A iniciativa partiu da bancada de oposição e foi rejeitada pela maioria aliada ao governo.
Conselhos buscam alternativas para a saúde
Em entrevista ao LIBERAL, os presidentes dos Conselhos Municipais de Saúde de Sumaré e Hortolândia avaliaram a situação do setor em cada cidade.
O presidente sumareense, José Luiz Crepaldi, cobra melhora na atenção básica dos PSFs (Programa de Saúde da Família) e fala em reforçar a prevenção.
“Não adianta lotar o pronto-socorro de médicos para trabalharem com doenças. Se você trabalhar com a prevenção, não terá um PS lotado”, afirmou.
Segundo ele, o Conselho atua acompanhando o trabalho nas unidades. “Fazemos avaliações, reivindicações e indicações. Tentamos direcionar da melhor maneira possível como gastar o dinheiro do orçamento da saúde”.
Crepaldi diz que cobra a presença de médicos nos postos de saúde dos bairros para que não haja a necessidade de a população ir ao pronto-socorro. “O Conselho trabalha para diminuir as filas. Acabar é difícil”, afirma ele.
O presidente do Conselho Municipal de Saúde de Hortolândia, José Carlos de Oliveira, aponta para a alta demanda na rede de saúde da cidade.
“A situação seria confortável se nós atendêssemos somente a população do nosso município. Temos um número razoável de médicos, mas Campinas, Paulínia e Monte Mor estão sufocando a gente”, diz ele.
Hoje, a Prefeitura realiza um concurso público para preencher, além de diversas áreas, os cargos de especialidades médicas. Oliveira espera que a cidade consiga contratar mais profissionais para a rede de saúde.
“Faltam médicos e alguns não querem trabalhar na rede pública por causa dos salários. Na área da saúde, temos que matar dez leões por dia para sobreviver”, lamenta.
Fonte: Jornal O Liberal